sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O que as cidades brasileiras precisam fazer para serem amigáveis à pessoa idosa?




Qualquer aspecto da vida humana pode ser amigável à pessoa idosa e a todas as idades. A adaptação da sociedade às especificidades do idoso facilita a toda a população e precisa fazer parte das políticas públicas.

Matéria do jornal Valor Econômico de 18 de dezembro traz entrevista de Alexandre Kalache, médico e gerontólogo, ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) e atual presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (Global Alliance of International Longevity Centres – ILC-GA). A matéria foi publicada no caderno Eu & Fim de Semana, página 3.

Na entrevista, Kalache analisa as duas principais tendências do século XXI – urbanização e envelhecimento populacional – e as transformações necessárias ao enfrentamento dos desafios colocados pelo aumento da longevidade na sociedade brasileira, muito voltada ao jovem: “Em uma sociedade que envelhece e se urbaniza ao mesmo tempo, é preciso planejar para ela ser mais humanizada e observar questões relacionadas às políticas de moradia, transporte, educação, acesso a trabalho, inclusão social, comunicação e informação, acesso a serviços sociais, de saúde e qualidade dos espaços públicos”.  As questões indicadas por Alexandre Kalache integram o enfoque “amigo do idoso” - aplicação prática do Marco Político do Envelhecimento Ativo, produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, atualizado pelo ILC-BR sob a condução de Alexandre Kalache e lançado em versão global, em julho de 2015. 

Desde sua concepção, o enfoque “amigo do idoso” é aplicado a comunidades, porteiros, transportes, empresas, comércio, entre muitos outros segmentos da vida em sociedade.

As iniciativas amigáveis às pessoas idosas são implantadas sob demanda da sociedade civil, em associação com os conselhos municipais dos direitos dos idosos e com os setores público, acadêmico e privado, baseados em intersetorialidade. É indispensável o protagonismo das pessoas idosas - em abordagem de baixo para cima. O resultado das iniciativas é a proposição de políticas públicas para o envelhecimento ativo, recomendadas em planos de ação, monitorados e avaliados continuamente.

O Brasil, entre seus mais de cinco mil municípios, tem cidades em processo de elaboração de iniciativas amigáveis às pessoas idosas e de adesão à Rede Global da OMS de Cidades e Comunidades Amigas do Idoso. A Rede foi criada em 2010 e agrega, no momento, 287 cidades e comunidades em 33 países, cobrindo 113 milhões de pessoas.


Políticas de Envelhecimento Ativo implantadas em cidade australiana... e no Brasil?

Uma cidade onde se aproveita a vida ao máximo: promove saúde e bem estar, é acessível para todos e oferece oportunidades para que as pessoas se conectem, participem e possam contribuir. Segundo o prefeito da Cidade de Unley, na Austrália, esses são princípios para uma cidade amiga das pessoas idosas.

Para o prefeito Lachlan Clyne, a premissa central da Estratégia de Envelhecimento Ativo da Cidade de Unley - recém publicada, é que “o envelhecimento é motivo de celebração”. No prefácio da publicação sobre a Estratégia, o prefeito Clyne afirma que há maior compreensão do envelhecimento e de sua influência na vida de cada um e na comunidade.

O elemento chave para o engajamento de Unley em um projeto de Cidade Amiga do Idoso se originou da participação no Programa “Thinker in Residence” em que Alexandre Kalache, em 2011/2012, desenvolveu os estudos sobre a Revolução da Longevidade, com base no conceito de Envelhecimento Ativo. Kalache também é prefaciador desta publicação.

Logo em seguida, em 2012, a Cidade de Unley criou o primeiro Conselho na Austrália do Sul (que agora conta com treze) e se vinculou à Rede Global da OMS de Cidades Amigáveis aos Idosos. Essa adesão à Rede significa que Unley é uma cidade onde as pessoas são capazes de contribuir independente da sua idade e representa uma demonstração concreta de que o município se empenha em melhorar a qualidade de vida dos moradores mais velhos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Varal Natalino do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento

Um grupo de pessoas idosas frequentou as aulas da Oficina Criativa com Livros Artesanais para produzir o Varal Natalino do Cepe (Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento, do Instituto Vital Brazil – vinculado à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro).

Para encerrar o ciclo de aulas, todos penduraram seus livros no “Varal”, com motivos natalinos. Algumas pessoas confeccionaram presentes afetivos para os seus. Outros, registraram suas lembranças. No final, lá estavam os livros no Varal Natalino.

Participantes da Oficina pendurando seus produtos
A coordenadora geral do Cepe, a médica Thelma Rezende, na abertura do evento, ressaltou como achou bonito ver as trocas entre os participantes durante a Oficina, nessa atividade voltada ao desenvolvimento de novas habilidades e ao estímulo da cognição. Para Thelma, “... é preciso achar graça na vida, colocar cor na vida.” Enfatizou, ainda, que esse evento fecha o ciclo de atividades do Cepe para a comunidade, este ano.

Entre os participantes, a maioria era de mulheres, mas havia um homem. A Oficina foi idealizada pelo Designer Gráfico do Cepe, Boris Garay, também tutor, juntamente com a Psicóloga Patrícia Fernandes e a Terapeuta Ocupacional Helena L. Rawet.

Foi feita uma apresentação da Oficina Criativa com Livros Artesanais para a montagem de composições visuais com desenho, recortes e fotografias. Boris Garay explicou que o objetivo era produzir livros personalizados, em que cada participante escolhe o título e cria a capa. Segundo Boris, “a ênfase é no visual, devido à heterogeneidade da população e ao aumento da cultura da imagem em nossa sociedade, especialmente a partir dos anos 50, quando surge a televisão.”

A primeira iniciativa, Oficina do Livro Criativo, gerou o Varal Literário.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Mobilidade Urbana e o envelhecimento populacional no Rio de Janeiro

Caminhar pela cidade...
Em momento de esforços para repensar a mobilidade das pessoas pelas cidades, com qualidade nos deslocamentos por seus espaços, coloca-se a oportunidade de discutir o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) para o município do Rio de Janeiro à luz das demandas da população idosa.

O Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) esteve presente em iniciativas da Prefeitura do Rio de Janeiro abertas à participação social para o desenvolvimento do PMUS: (1) Encontro “Que mobilidade queremos”, dia 14 de março, promovido pelo ITDP Brasil com o apoio da Prefeitura; (2) Oficina Participativa para o PMUS, em 25 de julho; e (3) Apresentação e discussão do Diagnóstico da Mobilidade no Rio, dia 5 de dezembro. O ano de 2015 marca o prazo final para que os municípios brasileiros com mais de 20.000 habitantes apresentem um plano local, conforme estabelecido pela Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Nº 12.587, de 3 de Janeiro de 2012).

A potencial oportunidade da Prefeitura para receber demandas da população idosa ficou incompleta, por ter-se limitado ao planejamento da gratuidade no transporte e da acessibilidade aos veículos. Entretanto, o preparo da sociedade vai muito além, posto que "mobilidade urbana" pressupõe também, entre outras questões, as relações humanas e as atitudes de profissionais e usuários, para a superação de conflitos suscitados por estigmas e discriminação.

Quanto às relações no setor de transportes, a qualificação dos profissionais é essencial para que lidem com o envelhecimento da população, devendo estar empoderados para recomendar respeito aos assentos preferenciais e gentileza aos demais passageiros. Devem também garantir o embarque de todos e o cumprimento da legislação sobre a gratuidade, assim como promover uma atitude de tolerância com os beneficiários da Lei.

Na dimensão estrutural dos ônibus, entre outros pontos a serem melhorados, está a instalação de apoio dianteiro nos assentos preferenciais, visando diminuir o risco de acidentes  em caso de freadas bruscas e solavancos, além do ajuste em avisos e informes do interior dos ônibus e das paradas, que usam letras pequenas e textos longos, dificultando a leitura.

SOBRE O PMUS

Na Cidade do Rio de Janeiro, a elaboração do PMUS é conduzida pela Secretaria Municipal de Transportes e pelo laboratório da Prefeitura, o LabRio, que especifica em seu site que a participação da sociedade no PMUS “acontece nos níveis de consulta e envolvimento”, com ferramentas digitais e presenciais.

  • A Oficina Participativa acima citada (25 de Julho) tinha como objetivo o levantamento de problemas pelos participantes, segundo Áreas de Planejamento (AP) da cidade, para sistematização pelas as equipes do LabRio e da Secretaria Municipal de Transportes.
  • No decorrer da reunião deste sábado, dia 5 de dezembro, para “Apresentação e discussão do Diagnóstico da Mobilidade no Rio”, as equipes do LabRio e da Secretaria Municipal de Transportes ressaltaram o caráter estratégico do PMUS, que não incluirá as questões operacionais encaminhadas pela Oficina de 25 de julho e por meio do sistema Mapeando.

Sendo assim, para além da gratuidade e da acessibilidade, o ILC-BR recomenda que o PMUS, em consideração ao envelhecimento humano, proponha políticas de respeito aos direitos de cidadania e à qualidade de vida das pessoas idosas. O crescente envelhecimento populacional é uma conquista que traz o desafio de preparar uma sociedade inclusiva e adequada aos cidadãos idosos, em vista de seus direitos e das singularidades dessa etapa da vida, ademais da tendência de que muitas pessoas venham a experimentar a velhice. O PMUS orientará investimentos durante os próximos 10 anos e seu escopo deve contemplar a transição demográfica que caracteriza o período.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Igualdade salarial para mulheres e homens?

Diferenças entre mulheres e homens, alterações demográficas profundas e um acelerado envelhecimento populacional influenciam a vida social com reflexos no atual paradigma das relações entre gêneros. Apesar de não haver mais lugar para papéis de gênero inflexíveis, as mudanças são demoradas. A menor expectativa de vida do homem em relação à mulher e a tradição do cuidado atribuído à mulher, entre outros fatores, produzem a chamada “feminização do envelhecimento”, com efeitos cumulativos das desvantagens baseadas em gênero.

Só agora as mulheres estão ganhando o mesmo valor de salários que os homens ganhavam em 2006. Situação decorrente da lenta redução da disparidade de oportunidades econômicas entre homens e mulheres – um período de dez anos que sugere que o mundo vai levar mais de 118 anos - ou até 2133 - para fechar essa lacuna. 

Segundo o Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2015, do Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum), lançado no dia 19 de novembro, o Brasil aparece na posição 85. Assim, o Brasil não está entre os 10 melhores, nem mesmo entre os países latino-americanos.

O Relatório analisou a disparidade global de gênero em quatro pilares: oportunidade econômica, educação, saúde e política. “Em termos econômicos, a desigualdade diminuiu apenas 3%, com avanços em direção à igualdade salarial e à paridade da força de trabalho e atraso significativo desde 2009/2010”.

No pilar da educação, a situação é mista quanto ao acesso. No geral, a disparidade de gênero na área de educação é agora de 95%, ou seja, distante da paridade em 5%, o que indica uma melhoria em relação aos 92% em que se encontrava em 2006. Em todo o mundo, 25 países já eliminaram essa lacuna, sendo o maior progresso no ensino universitário, onde as mulheres constituem agora a maioria dos estudantes em quase 100 países.

Entretanto, os avanços nesse pilar não são tão gerais, pois 22% dos países monitorados continuamente nos dez anos de pesquisa tiveram um aumento da desigualdade no tocante à educação. Constata-se também grande falta de correlação entre a participação de mais mulheres na educação e sua capacidade de ganhar a vida por meio de funções qualificadas ou de liderança.

Com 96%, a Saúde é o pilar que está mais próximo da paridade. Foram 40 países que fecharam a lacuna, sendo cinco nos últimos doze meses. 

Vídeos com depoimentos de membros do Conselho da Agenda Global (Global Agenda Council) sobre Paridade de Gêneros, durante o Summit on the Global Agenda 2015:


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Qual é o lugar do Cuidado Paliativo no sistema de saúde?

Uma definição de cuidados paliativos estabelecida, em 2002, pela Organização Mundial da Saúde, é uma formalização relativamente recente, por que a “filosofia paliativista” tem registros históricos desde a Antiguidade, quando aparece o conceito de “cuidar”, segundo o site da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Desde as primeiras práticas, a trajetória dos cuidados paliativos está relacionada ao alívio do sofrimento humano, mais do que à cura.

A partir da esquerda: Anelise Fonseca, Kylza Estrella,
Filipe Gusman, Lilian Henneman e Patrícia C. Ferreira
O evento “Urgência na saúde: o lugar do Cuidado Paliativo”, promovido pela Aliança para a Saúde Populacional (ASAP), lançou uma agenda sobre o tema, que incluiu o direito de escolha dos pacientes.

Na abertura do evento, o presidente do Conselho Administrativo da ASAP, médico Paulo Marcos Senra Souza, afirmou que “tecnologia e dinheiro” não contribuem para a longevidade, enquanto o uso inteligente e eficiente de recursos, sim, aporta contribuições. O médico caracteriza o momento atual como uma “era de transição, decorrente de queda das taxas de mortalidade e de natalidade; aumento da expectativa de vida; transição epidemiológica; novas formas de comunicar e novas tecnologias”. Em sua análise, a prevenção do adoecimento ainda é desafiadora, “em vista das dificuldades enfrentadas pela recomendação de uma cultura de autocuidado, de criação de relação médico-paciente e de fidelidade de ambos”. Para Paulo, a superação dessas barreiras ajudaria a melhorar os indicadores de saúde-doença. Em um cenário onde todos são responsáveis, “é possível mudar o modelo de fazer gestão de saúde e se ter menos doenças e menos custos”, declara Paulo.

O médico Filipe Gusman, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos – Sudeste e geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, ao falar sobre “Cuidados Paliativos: desfazendo mitos para ampliar a assistência”, apresentou uma fotografia de Unidade de Terapia Intensiva onde eram vistos os inúmeros aparelhos disponíveis para tratamento. Diante da imagem, indicou perguntas a serem feitas: “A condição do paciente é reversível? Está na última fase? Por quanto tempo manter?” E ressaltou que, por exemplo, um idoso sofrendo, espera alívio e não alta tecnologia – “ele quer ser cuidado”. Para Filipe Gusman, “os cuidados paliativos devem começar quando a pessoa recebe o diagnóstico da doença ameaçadora da vida”.

O tema “O Cuidado Paliativo no hospital e no atendimento domiciliar” foi apresentado por Anelise Fonseca, médica, coordenadora do Núcleo de Cuidados Paliativos da Procare Saúde, que discutiu os cuidados paliativos no atendimento domiciliar e na internação hospitalar. Anelise Fonseca diferenciou os modelos e estruturas nos dois tipos, que, para ela, implicam em cuidado integrado e devem “estar inseridos na discussão diária dos médicos”. 

A médica Patricia Cristina Ferreira, diretora de Relações Empresariais e Medicina Preventiva da Geriatrics, apresentou o “hospice care”, com a palestra “O Cuidado Paliativo em unidade de hospice”. Citou a dinâmica que adaptou de Alexandre Kalache, em que pergunta a pessoas e ou grupos “com que idade acham que vão morrer, como será a morte (doença, acidente etc.), onde será (hospital, asilo, em casa etc.)”, entre outras indagações. Explicou que hospice é uma filosofia do cuidado, para aplicação de cuidados paliativos intensivos a pessoas com doenças em estado avançado e ameaçadoras da vida. Disse, ainda, que “a preferência das pessoas é por morrer em casa”.

Em seguida às apresentações, um debate com os palestrantes foi moderado por Lilian Hennemann, médica do Programa de tratamento da dor e cuidados paliativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por Kylza Estrella, Diretora Médica do Grupo Santa Celina. Entre os pontos discutidos, estavam a diferença da internação em casa e em hospital; os 10% das mortes ocorrerem de doença aguda e rápida, enquanto os demais morrem após doença prolongada; e a necessidade de que equipes de cuidados paliativos realizem um luto antecipado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Seminário Gestão do Cuidado na Atenção Domiciliar

A estratégia de desenvolvimento do tema do seminário começou pela indicação das diferenças entre “Atenção Domiciliar”, “Atendimento Domiciliar” e “Internação Domiciliar”.

<>A Atenção Domiciliar constitui-se de ações de promoção à saúde; prevenção e tratamento de doenças; e reabilitação; desenvolvidas em domicílio.

<>O Atendimento Domiciliar envolve o conjunto de atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas, desenvolvidas em domicílio.

<>A Internação Domiciliar, em contraposição à internação hospitalar, consiste em atividades prestadas no domicílio, caracterizadas pela atenção em tempo integral ao paciente com quadro clínico mais complexo e com necessidade de tecnologia especializada.

A palestra do médico geriatra cearense, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), João Bastos Freire Neto, analisou a atenção domiciliar como ambiente de cuidado do idoso, considerando o que está disponível pelo Sistema Único de Saúde e pelo sub-sistema de Saúde Suplementar. Falou, ainda, sobre a formação e a demanda de profissionais capacitados em atenção à saúde da pessoa idosa, com ênfase na necessidade de esclarecer as pessoas sobre o que o geriatra faz e como atua.

Para João Bastos, a população idosa é “a principal usuária desse tipo de organização do sistema de saúde”, concebido para evitar a hospitalização; favorecer a desospitalização quando ela ocorre; treinar o paciente ou o cuidador frente às novas necessidades surgidas depois da alta; promover a adaptação e maior autonomia do paciente e de seus familiares; além de adequação e redução de custos sem perda de qualidade, prevenção precoce de complicações no domicílio e a volta do vínculo familiar e da rotina domiciliar. 

O cuidado implica a articulação de profissionais e ambientes, a adequação às necessidades de cada paciente e o uso de tecnologias (duras, leves-duras e leves), que, segundo João Bastos, se realiza por meio de “cuidados centrados no paciente, para ‘agir e tratar através dos olhos dos pacientes’”. João Bastos definiu as dimensões do cuidado como “profissional, sistêmica e organizacional”. Os elementos da dimensão profissional são a postura ética, competência e capacidade de vínculo. Na dimensão organizacional o médico descreveu como elementos importantes: o processo de trabalho, registro de informações e o relacionamento em equipe. Para a dimensão sistêmica: protocolos e normas, serviços de suporte e acesso a tecnologias.

O seminário “Gestão do Cuidado na Atenção Domiciliar” foi realizado no dia 12 de novembro de 2015, de 10h às 12h, no auditório do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento - Cepe (vinculado ao Instituto Vital Brazil), por iniciativa conjunta do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) com o Cepe.

O palestrante João Bastos, como é conhecido, é coordenador da Saúde da Pessoa Idosa na Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, primeiro representante do estado do Ceará a gerir a SBGG nacional. João Bastos presidiu a SBGG Ceará (SBGG-CE) de 2010 até assumir a presidência nacional para o período 2014-2016. Sua experiência clínica inclui idosos assistidos em domicílio (home care), saúde do idoso na atenção primária e gerenciamento de doentes crônicos, entre outros. Ele é especialista em Clínica Médica, Medicina de Família e Comunidade e Geriatria pela Associação Médica Brasileira (AMB).  

A partir da esquerda: Alexandre Kalache, João Bastos, Silvia Pereira e Débora Teixeira

Com moderação de Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade, o debate teve a participação das médicas Débora Teixeira, representando Guilherme Wagner, superintendente da Atenção Primária, Subsecretaria de Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde (SUBPAV)/Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro; e Silvia Regina Mendes Pereira, geriatra, professora na Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e membro do Conselho Consultivo do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).

Presente ao seminário, o geriatra José Elias Pinheiro também contribuiu com uma fala especial e afirmou que “a atual e a próxima provável diretoria da SBGG estão alinhadas para dar continuidade a todos os projetos em curso e futuros”. José Elias apresentará candidatura para a próxima gestão da SBGG, período 2016-2018 e já interage com João Bastos para promover a continuidade.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Pela primeira vez envelhecimento é tema de evento

“Salzburg Global Seminar” atrai para a cidade de Salzburg, na Áustria, as personalidades de maior destaque em suas áreas de expertise. Ao longo de 65 anos, o evento vem reunindo lideranças para refletirem sobre soluções criativas para preocupações globais. Foram abordados diversos temas ao longo das décadas e somente este ano o envelhecimento foi incluído no debate, sob o título “O Envelhecimento das Sociedades – inovação e equidade” (Ageing Societies: advancing innovation and equity).

O “Salzburg Global Seminar” foi realizado de 1º a 5 de novembro, com o foco em três eixos: a economia do envelhecimento diante da sustentabilidade dos sistemas de bem-estar social; a força de trabalho, inovação e tecnologia; a sociedade e as famílias. A escolha do tema se baseou no aumento exponencial da população idosa e em seus reflexos de ordem demográfica, epidemiológica e social, que influenciam a demanda de cobertura pelos sistemas de proteção, os benefícios requeridos por esse grupo etário, os arranjos familiares e públicos de prestação de cuidado.

Photo: Salzburg Global Seminar/Ela Grieshaber
Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade, presidiu a edição do Seminário juntamente com Janice Chia, fundadora e diretora do Ageing Asia, de Singapura.

Em sua palestra de abertura, “Abordagem holística da sociedade que envelhece”, Kalache ilustrou as mudanças decorrentes da cada vez mais numerosa população idosa, ao contar que o bairro de Copacabana está muito diferente: “eu nasci em uma maternidade, em Copacabana, que é hoje um hospital geriátrico”. Além de abrir o Seminário, Kalache coordenou um grupo de trabalho, moderou um painel e está à frente da elaboração do relatório “Declaração de Salzburg”, que estabelece prioridades e recomendações destinadas a redes na área do envelhecimento.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Estratégias para a implantação do envelhecimento ativo no mundo: iniciativas amigas do idoso

Mais do que um tema, o III Fórum Internacional Longevidade apresentou um leque de possibilidades de aplicação do enfoque “Amigo do Idoso” em qualquer parte do mundo. Foram mostradas experiências de diversos países: África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Israel, Japão, Reino Unido, República Dominicana, Suécia, Suíça, Singapura. Entre os participantes estavam representados os regimes monárquicos do Reino Unido e da Suécia, que trouxeram seus relatos.

A Baronesa Sally Greengross, com o título concedido como reconhecimento de suas contribuições ao Reino Unido, expôs uma iniciativa que visa alcançar uma sociedade de envelhecimento sustentável (SOS - Sustainable Older Society), como resposta aos desafios da longevidade, clamando que o governo britânico seja mais ousado e corajoso em sua visão de “Saúde e em todas as políticas”.

Ludvig Mornesten, coordenador de equipe da organização parceira da Fundação Rainha Silvia da Suécia - Swedish Care Iternational (SCI) –, descreveu as atividades em prol de avanços na pesquisa e no cuidado da demência, de modo que se tornem disponíveis mundialmente. A proposta de sua palestra no III Fórum Internacional Longevidade foi “De iniciativas amigas dos idosos até iniciativas amigas da demência – criando uma sociedade melhor para todos”.

Consolidação conceitual

Já inserido na prática de muitos brasileiros – e do mundo –, o conceito de “Envelhecimento Ativo” orienta profissionais e interessados há mais de uma década e fez parte da palestra intitulada “Fundamentos das iniciativas amigas do idoso: O Marco Político do Envelhecimento Ativo em resposta à revolução da longevidade – lançamento da revisão”. Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade Brasil, e Louise Plouffe, do Centro Internacional de Longevidade Canadá, falaram sobre “o projeto de renovar o conceito de 2002, ano da primeira edição que, por si só, já recomendava sua revisão e atualização”.

O “Envelhecimento Ativo: um marco político em resposta à Revolução da Longevidade”, de 2015, revisitou o que ficou conhecido como Marco Político do Envelhecimento Ativo (Active Ageing Framework), publicado em 2002 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As duas edições – 2002 e 2015 - tiveram a liderança de Alexandre Kalache, que à época da primeira edição era diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida, e atualmente é co-presidente da Aliança Global de International Longevity Centres (ILCs) e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).

Para a revisão e atualização do Marco Político do Envelhecimento Ativo, após dez anos de sua existência, Alexandre Kalache propôs “que Louise Plouffe coordenasse uma pesquisa no Rio de Janeiro, que recebeu fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e apoio do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), do Instituto Vital Brazil”. Ina Voelcker, gerontóloga alemã, coordenadora técnica do ILC-BR, participou da pesquisa e da edição e produção editorial do relatório, elaborado em inglês e português e distribuído gratuitamente no Fórum.

Apresentada por Diego Bernardini, médico argentino, coordenador de projetos especiais do ILC-BR, a iniciativa "Atenção Primária à Saúde Amiga do Idoso" foi a primeira aplicação do enfoque amigo do idoso, em 2004. Segundo Diego, “a iniciativa foi estabelecida pela OMS como resposta à necessidade de sensibilizar e capacitar equipes de saúde e os diferentes níveis de atenção do próprio sistema de saúde, frente ao desafio que requer prestar serviços, atenção e cuidado a uma população crescente de adultos mais velhos”.

Como mais um seguimento do Marco Político do Envelhecimento Ativo, em 2007, para que o “Envelhecimento Ativo” se tornasse uma realidade, a OMS desenvolveu um instrumento de investigação (Protocolo de Vancouver) e realizou uma pesquisa geradora da publicação “Guia Global Cidade Amiga do Idoso” - adotada por mais de mil localidades participantes de uma rede global de cidades e comunidades amigas do idoso. Como desdobramento, consolidou-se uma estratégia de implementação do enfoque “Amigo do Idoso” aplicável a todo e qualquer aspecto da vida em sociedade, como unidades de saúde, praças, bairros, entre muitos outros.

A coordenadora técnica do ILC-BR, Ina Voelcker, apresentou o Protocolo do Rio, versão atualizada e contextualizada ao Brasil do Protocolo de Vancouver – o instrumento de investigação orientador da pesquisa recomendada para ações com o enfoque amigo do idoso.

Ao declarar que “no século XXI, serão vencedoras as empresas e os negócios amigáveis às pessoas idosas”, Michael Hodin enumerou “sete princípios que podem tornar um negócio amigo do idoso”: (1) um ambiente de trabalho propício ao envelhecimento; (2) contexto acolhedor; (3) cultura sensível ao envelhecimento; (4) favorecer a aprendizagem ao longo da vida e a participação social; (5) plano de investimento para períodos de trabalho mais longos; (6) apoio ao provimento de cuidado; (7) medidas de envelhecimento saudável. Michael Hodin é executivo da Coalizão Global para o Envelhecimento e membro do Conselho de Agenda Global do Envelhecimento do Fórum Econômico Mundial (WEF), EUA.

Considerando-se que o enfoque amigo do idoso se baseia em oportunidades para saúde, participação, segurança e aprendizagem ao longo da vida, a “Promoção de Saúde na Velhice” - como momento para reativar a agenda de prevenção-, foi foco da palestra de Adriana Selwyn, do Grupo Vitality (EUA). Entre as recomendações de promoção da saúde a serem seguidas durante o curso de vida, estavam a redução de riscos que afetam a longevidade; a observação da diferença de necessidades de promoção e prevenção entre pessoas idosas e adultos de outros grupos etários; o adiamento da diminuição da capacidade funcional, de multimorbidades, doenças crônicas não transmissíveis, fragilidades, demência e depressão, para citar apenas algumas condições clínicas.

Casos

Comunidades, cidades e estados Amigos do Idoso avançam pelo mundo, por exemplo, no Canadá, Espanha, Austrália, Brasil e Argentina. O III Fórum Internacional Longevidade trouxe experts desses países e uma expert brasileira que descreveu o caso do Estado de São Paulo.

A cidade de Nova York Amiga do Idoso se desdobra em novos projetos com ênfase em implantação de programas em empresas para a valorização do profissional sênior, conforme exposição de Ruth Finkelstein, da Columbia University e diretora do ILC-EUA.

O Brasil também se volta para a área de Recursos Humanos, com estudos sobre a força de trabalho acima dos 60 anos, aposentadoria, previdência e reconhecimento da experiência de profissionais mais velhos. Presente ao Fórum e ativamente participante de iniciativas relacionadas a longevidade, a Associação Brasileira de Recursos Humanos.

Sobre “negócios amigos do idoso”, foram apresentados casos de empresas e organizações brasileiras envolvidas com ações para o envelhecimento, inclusive a patrocinadora do Fórum – Bradesco Seguros.

Duas universidades brasileiras mostraram suas estratégias para se tornarem amigas do idoso e organizações não governamentais de abrangência internacional e nacional indicaram suas atividades indicativas do importante papel que representam.


Panorama dos Centros Internacionais de Longevidade (ILCs) - 14 iniciativas

A Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade contribuiu para que se visualizasse um quadro de iniciativas desenvolvidas nos 14 países participantes do Fórum, organizadas segundo quatro pilares do envelhecimento ativo: saúde, aprendizagem ao logo da vida, participação e proteção.

Diferentes culturas, distintas economias, diversidade de desafios... assim foi traçado o panorama global.


Memorial Robert Butler: Reflexões sobre o que é “amigo do idoso” 

Para encerrar o Fórum, Alexandre Kalache considerou Ligia Py como a escolha acertada para a Conferência Magna ‘Robert Butler Memorial Lecture’ – “por ser uma dama, sensível e doce pessoa”, ideal para uma homenagem a Robert Butler (1927-2010), psiquiatra e gerontólogo, fundador do Centro Internacional de Longevidade dos Estados Unidos da América (ILC-EUA), em 1990 – o primeiro ILC do consórcio agora integrado por 17 países. Bob Butler, assim conhecido por seus pares, dirigiu o ILC-EUA durante 20 anos, dedicado à defesa dos direitos das pessoas idosas por meio de pesquisa e ações sociais. Sua visão do envelhecimento produtivo afirmava que o trabalho pode ser gratificante até o fim da vida. Ele mesmo trabalhava 60 horas por semana até os 83 anos.

Como se “puxasse um fio de pensamento”, a reflexão de Ligia Py começou com o mito da imortalidade dos deuses, que remete à nossa mortalidade, às incertezas sobre o envelhecimento e o futuro e a conquista da longevidade como o “triunfo da solidariedade”.

Para Ligia Py, a expressão “amigo do idoso” (age-friendly) está vinculada à origem da palavra “friend” no inglês antingo Freond, que significa “amar”. Ligia Py é psicóloga, mestre em Psicossociologia e doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da UFRJ. Especialista em Gerontologia titulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). 


Mais sobre o III Fórum Internacional de Longevidade

O Centro Internacional de Longevidade vai produzir os anais do Fórum, que estarão disponíveis em meados de dezembro, em seus endereços na internet:

Twitter: @ilcbrazil

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Capital, riesgos y curso de vida

O Coordenador de Projetos Especiais do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), médico argentino Diego Bernardini, analisa os capitais vitais de “Saúde”, um entre vários capitais a serem cultivados ao longo do curso de vida, segundo o recém lançado “Envelhecimento Ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade”. Outros capitais são redes sociais, conhecimentos e geração de renda – quanto mais cedo se começa a cuidar deles, melhor.

Capital, riesgos y curso de vida

Cuando la ciencia, la prensa, los libros o las personas se refieren a un “Capital” se suele hablar de un bien preciado, ante todo algo valorado. Una riqueza que resulta de un proceso de acumulación financiera, en donde su duración o perdurabilidad en el tiempo otorga la propiedad que ese bien debe ser cuidado. Un capital por definición encierra valor. Puede ser un capital físico o financiero, hay capital humano y también capital de riesgo, así como capital social o capital propio. Pero también existe otro tipo de capital del que poco se habla: el capital de salud, concepto que como es de imaginar, proviene de la economía y que fuera introducido por Grosman en 1972.

En el caso de la salud, como en todo capital existe un “deposito” o “reservas” con las que todos contamos desde el momento de nacer. Estas reservas tienen, fundamentalmente, dos orígenes a modo de insumos: el genético o biológico que nos viene condicionado por nuestra herencia y donde género y raza son determinantes; y el que nos ofrecerá el medioambiente o entorno en el que creceremos, en gran modo dependiente de las condiciones socioeconómicas de nuestra familia primaria. Estas dos variables, en mayor o menor medida, estarán moduladas durante nuestra existencia por el propio curso de vida, nuestro propio transcurrir; por ello decimos que esta visión o perspectiva de análisis encuentra su fundamento en la importancia del contexto.

Así como un capital financiero está sujeto a riesgos y oportunidades de los mercados, el capital de salud también está sujeto a riesgos. Esos pueden ser positivos o negativos, o lo que es lo mismo: ser ventajas y desventajas, ambas cobran mayor o menor importancia según nuestro momento vital. Una enfermedad infecto contagiosa, como el sarampión, que afecte en la primera infancia, momento de gran importancia en el desarrollo de las personas y donde la madurez del sistema inmune aun no es completa, es casi por seguro que tendrá un impacto diferente que el mismo problema en la vida adulta donde las defensas del organismo se hallan en plenitud. Una lesión osteomuscular en la adultez joven lo mismo podría provocar secuelas distintas que si ocurriera en la vejez, momento en el que las capacidades funcionales están, en su mayoría, en disminución. 

Si hoy tuviésemos que ponerle nombre a estos riesgos u oportunidades que nos brinda el “mercado de la vida” sin duda alguna seria “Estilos de vida”. Prueba de ello es que ocho de cada diez personas adultas de nuestra sociedad se enferman, sufren y mueren por las llamadas enfermedades crónicas no transmisibles – enfermedades cardiovasculares, diabetes, enfermedad pulmonar obstructiva crónica y algunos tipos de cáncer -  que se originan fundamentalmente en nuestros estilos de vida, en nuestra forma de vivir.

Por ejemplo, la obesidad como el sobrepeso son factores de riesgo para diabetes tipo II, dislipemias, enfermedad cardiovascular y otras enfermedades. Sin dudas esto impactara en nuestro capital de salud y desde las etapas de vida más tempranas, sea de manera directa a través de los problemas de salud pero también desde dimensiones más complejas de medir como puede ser la estigmatización social, la autoconfianza o las oportunidades. Desde una visión social, considerar que los recursos del Estado que se empleen en atender la demanda de las necesidades en salud de una población obesa, serán recursos que falten para ser invertidos en educación, infraestructura o desarrollo. 

Invirtamos en salud, mejoremos nuestro capital

Así como en economía existen inversiones a corto y largo plazo, también existen en salud. Invertir en salud ante todo es mirar a largo plazo, pero también y a diferencia de los mercados económicos, disfrutar en lo inmediato. De inversión a largo plazo nos da la razón la expectativa de vida actual donde la revolución de la longevidad hoy es una realidad y ganancia de los tiempos que nos tocan vivir. 

A los estilos de vida se los aborda desde dimensiones individuales como una dieta adecuada, controles médicos periódicos, un programa de actividad física que reúna criterios de prescripción, pero también desde políticas públicas planificadas, implementadas, monitoreadas y evaluadas por un Estado presente. 

Tener salud es tener independencia, es libertad. Ambas solo se aprecian cuando se la pierde. Invertir en salud es ser libres y eso se logra solo cuidando lo que se tiene: un capital de salud. 

Autor:
Diego Bernardini – argentino, médico de família com mais de 15 anos de prática clínica e experiência como consultor do Banco Mundial, da Organização Panamericana de Saúde em Washington e da Fundação Européia de Yuste na Espanha. Trabalhou no setor privado e integrou o Ministério da Saúde da Nação, em Buenos Aires, Argentina. Desenvolveu trabalhos na América Latina, América do Norte, Europa e no Sudeste Asiático, onde foi professor visitante na Universidade da Malásia em 2014. É professor de pós-graduação na Argentina, México e Espanha, com mestrado em Gerontologia e doutorado em Medicina pela Universidade de Salamanca, Espanha.

Edição:
Silvia M. M. Costa

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Do envelhecimento ativo às iniciativas amigas das pessoas idosas

Os princípios de envelhecimento ativo estão disponíveis em grande número de países e de continentes. Já inserido na prática de muitos brasileiros – e do mundo –, o conceito de “Envelhecimento Ativo” orienta profissionais e interessados há mais de uma década, o que por si só já recomendava sua revisão e atualização.

O “Envelhecimento Ativo: um marco político em resposta à Revolução da Longevidade”, de 2015, revisita o que ficou conhecido como Marco Político do Envelhecimento Ativo (Active Ageing Framework), publicado em 2002, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As duas edições – 2002 e 2015 - tiveram a liderança de Alexandre Kalache, que à época da primeira edição era diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida, e atualmente co-presidente da Aliança Global de International Longevity Centres (ILCs) e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).

Como aplicação prática do Marco Político do Envelhecimento Ativo foi produzido o enfoque “amigo do idoso”, desde sua concepção implantado em comunidades, cidades, bairros, transportes, empresas, comércio, portarias de edifícios, entre muitos outros segmentos da vida em sociedade. São as “Iniciativas Amigas do Idoso”, por que qualquer aspecto da vida humana pode ser amigável à pessoa idosa e a todas as idades. Por um lado, as pessoas vivem mais e chegarão à velhice. Por outro lado, a adaptação da sociedade às especificidades do idoso facilita a todos e precisa fazer parte das políticas públicas.

A primeira aplicação foi registrada na iniciativa “Atenção Primária à Saúde Amiga do Idoso” (Towards Age-friendly Primary Health Care), em 2004. Seguiu-se o “Guia Cidades Amigas do Idoso”, em 2007 – ambos da OMS e coordenados por Alexandre Kalache. Em 2015, há mais de mil localidades membros do Age-friendly World, uma rede global de cidades e comunidades amigas do idoso, da OMS.

Envelhecimento Ativo: um marco político em resposta à Revolução da Longevidade

Para a revisão e atualização do Marco Político do Envelhecimento Ativo, após dez anos de sua existência, em 2012, Alexandre Kalache propôs o desenvolvimento de pesquisa que recebeu fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e apoio do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), do Instituto Vital Brazil. O relatório da pesquisa foi elaborado em inglês e português.

Uma versão global da publicação foi lançada no dia 15 de julho, em Nova York, durante a 4ª Reunião do Grupo de Trabalho sobre Envelhecimento (Open-Ended Working Group on Ageing), realizada na Organização das Nações Unidas. O lançamento na ONU teve o apoio dos parceiros internacionais: United Nations Population Fund (UNFPA), the Permanent Mission of Argentina, the Permanent Mission of Canada, the Global Alliance of International Longevity Centres, e, em especial, ILC Canada, AARP, The Global Coalition on Aging e International Federation on Ageing (IFA). 

Com abordagem ampla e foco nos determinantes do envelhecimento ativo, entre as principais tendências contemporâneas, o relatório da pesquisa examina questões como urbanização, globalização, aumento de iniquidades, feminização do envelhecimento, migração, inovação tecnológica, ambiente e mudanças climáticas. A publicação revisita a primeira edição do Marco Político do Envelhecimento Ativo no contexto do desenvolvimento internacional de reconhecimento e fortalecimento dos direitos humanos das pessoas idosas.

A versão em português será lançada no III Fórum Internacional de Longevidade, que acontece nos dias 21 e 22 de outubro, de 09:30 às 17:30, na cidade do Rio de Janeiro. As inscrições já foram encerradas.

O III Fórum Internacional de Longevidade

A terceira edição do Fórum Internacional de Longevidade é organizada pelo ILC-BR, com patrocínio de Bradesco Seguros e Universidade do Seguro (UniverSeg) e apoio institucional do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), vinculado ao Instituto Vital Brazil, da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ); da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Fundação de Empreendimentos, Pesquisa e Desenvolvimento Institucional, Científico e Tecnológico do Rio de Janeiro (Femptec). O III Fórum Internacional de Longevidade é realizado em parceria com os apoiadores: Galderma Brasil e Apsen Farmacêutica.

Serão palestrantes mais de 15 países-membro da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade – um consórcio de organizações voltadas ao envelhecimento populacional, constituído por África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Israel, Japão, Reino Unido, República Dominicana, República Tcheca, Singapura.

Também estarão como palestrantes diversos representantes de organizações intergovernamentais, como Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo de População da Organização das Nações Unidas (UNFPA), Organização Mundial Demográfica (World Demographic Forum on Ageing – WDA), Conselho de Envelhecimento do Fórum Econômico Mundial (WEF Global Agenda Council on Ageing). E de organizações internacionais: Federação Internacional de Envelhecimento, Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia, Rede Internacional para a Prevenção de Abuso da Pessoa Idosa. Além do espanhol Instituto Gerontológico Matia.

As instituições brasileiras participantes serão: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Associação Brasileira de Recursos Humanos, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade da Terceira Idade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UnATI/UERJ) e Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).

Fóruns anteriores

Em 2014, o evento reuniu mais de 20 experts e grande público, constituído por pesquisadores, executivos, mídia e outros interessados nacionais e estrangeiros, na sede da Bradesco Seguros, para debates sobre as questões interdisciplinares de gênero e envelhecimento. Os experts internacionais provinham de organizações globais, como UNFPA; OECD; UNECE; WHO; ILO; ILC-Argentina; HelpAge International; da Academia, como University of Surrey, UK; University of Montreal; University of Oxford; Wellness Institute de Adelaide; de associações e setores governamentais (American Gerontological Society; Canadian Parliament; Federal Social Security Department); e instituições brasileiras (Instituto Vital Brazil; Congresso Brasileiro; Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; IPEA; CBN/Globo; Folha de São Paulo; Fundação Oswaldo Cruz; Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade de Campinas; Universidade de São Paulo).

Em 2013, para discutir a cultura do cuidado, participaram mais de 20 experts de organizações como Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); World Demographic & Ageing Forum (WDA); Governo Nacional da Costa Rica; Governo da Austrália do Sul; International Federation of Ageing (IFA); Organização Panamericana de Saúde (OPAS); Organização Mundial da Saúde (OMS); ILC-Argentina; ILC-República Dominicana; ILC-França; ILC-Líbano; ILC-África do Sul; Instituto de Envelhecimento, México; Fundação Matia, Espanha; Escola de Saúde Pública/Universidade de São Paulo; Universidade das Índias Ocidentais, Jamaica; Universidade Americana de Beirute, Líbano; Universidade de Alberta, Canadá.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Andaluzia se integra ao movimento pelo envelhecimento ativo

Alexandre Kalache faz conferência na Espanha
“Há mais pessoas com mais de 60 anos hoje no mundo do que a soma de todas as pessoas que já atingiram esta idade ao longo da história. Se isso não é uma revolução, não sei o que é!”, disse Alexandre Kalache ao abrir sua conferência na Escola Andaluz de Saúde Pública (Escuela Andaluza de Salud Pública - EASP), onde é professor associado. Além da atividade docente na Espanha e em universidades de outros países, Kalache é co-presidente da Global Alliance of International Longevity Centres (ILC) e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).
O programa da Jornada “Envejecimiento Activo y Saludable +50” começou com a boas vindas do diretor da EASP, Juan Carlos March, que destacou alguns aspectos da conferência de Kalache, como “ser preciso saber que coisas a fazer para o futuro, para que a cidade seja amiga do idoso e que o meio ambiente e o entorno sejam favoráveis e não barreiras, como adicionar vida aos anos, como superar as desigualdades sociais, quais os papéis dos serviços sociais e da saúde.” Indicou, ainda, esses pontos como parte do debate para os grupos de discussão que se seguiriam à conferência.
Ao passar a palavra para Alexandre Kalache, o diretor pontuou a “importância de ajudar Andaluzia, a Espanha e o mundo para a implantação de estratégias de envelhecimento ativo”. Segundo Juan Carlos March, a expectativa da EASP é propor um conjunto de propostas voltadas à melhoria da vida das pessoas idosas.
Alexandre Kalache apresentou o Marco Político do Envelhecimento Ativo (Active Ageing Framework), publicado em 2002 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - quando era diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida – e lançado em 2015, revisado e atualizado pelo ILC-Brasil.
Disponível aqui vídeo da conferência.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Países são avaliados de acordo com a forma como cuidam de suas populações idosas

Pessoas idosas desses países gravaram um vídeo onde transmitem em 10 segundos uma mensagem em resposta à pergunta “o que o seu país pode fazer pelas pessoas idosas?”
 
O Brasil foi representado no vídeo por Maria da Penha Franco, de 81 anos, membro do Conselho Estadual para Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa – Cedepi, do Estado do Rio de Janeiro. Link para o vídeo: http://www.helpage.org/global-agewatch/
 
Índice analisa o envelhecimento global na publicação anual da HelpAge International, o Global AgeWatch Index, lançado na última terça-feira,  dia 8 de setembro, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
 
O lançamento foi marcado por um debate sobre as informações veiculadas pelo Index, com participação de Toby Porter, CEO da HelpAge International. O debate introduziu o Index e discutiu encaminhamentos para as Metas de Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Goals - SDGs), que incluem questões relacionadas ao envelhecimento populacional, “refletindo o crescente reconhecimento do envelhecimento da população como fator de transformação de nosso mundo e criando oportunidade para o melhor preparo para o futuro”, ressaltou Toby Porter.
 
Alexandre Kalache, médico, gerontólogo, presidente do ILC-BR e co-presidente da Aliança Global de ILCs, considera que “o Global Age Watch Index mostra um Brasil estacionário no ranking dos países onde é melhor envelhecer. A mudança de duas posições no ranking não significa que o ano foi bom.”

Clique aqui para download da publicação

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Congresso de Geriatria e Gerontologia é boa notícia!

A celebração positiva expressou o clima da abertura do Congresso Estadual da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), “GERIATRIO 2015”, promovido a cada dois anos pela seção Rio de Janeiro.
 
Mesa de abertura*
O GERIATRIO 2015 foi aberto às 19h do dia 3 de setembro pelo presidente nacional da SBGG, geriatra João Bastos Freire Neto. As boas vindas da presidente do Departamento de Gerontologia da seção Rio de Janeiro, Márli de Borborema Neves, agradeceu o senso de coletividade que predominou durante a organização do congresso.
 
E Tarso Mosci, presidente da seção Rio de Janeiro, ressaltou a integração dos campos da geriatria e gerontologia: “geriatra tem alma de gerontólogo, com a diferença que prescreve”. Ao traçar uma imagem do congresso, relembrou a todos que as notícias dos meios de comunicação têm sido negativas e desejou que “o GERIATRIO 2015 seja uma boa notícia, pois reúne muita gente que se preocupa com o envelhecimento”.
 
Em seguida à abertura, foi realizada a Conferência Magna “Como cuidar de idosos com doenças graves no século XXI”, apresentada por Fernando Kawai, pesquisador norte-americano, nascido no Brasil, onde se graduou em medicina pela USP em 1998. Sua residência em medicina interna foi no New York Medical College / Metropolitan Hospital e a especialização em Geriatria pelo Programa Harvard Geriatrics Fellowship - Harvard Medical School, Beth Israel Deaconess Medical Center. Completou sua formação em Cuidados Paliativos na Universidade de Stanford.
 
Fernando Kawai considera que “com o envelhecer, vem o morrer” e que menos intervenções no paciente proporcionam mais qualidade de vida. Para Kawai, “a prática médica conduz o paciente idoso para as unidades de tratamento intensivo e planejam um tratamento intervencionista, caracterizado por diversos tubos, imobilidade e até contenção.” As condições clínicas de doença grave e de fim de vida, segundo Kawai, “requerem decisões do paciente sobre a vontade quanto a essas intervenções ou não - sobre a forma como quer morrer”.
 
Os resultados de estudos de Kawai mostram que “menos UTI e mais cuidados paliativos para alívio da dor e da depressão, prolongam a vida de pacientes, em comparação a pessoas em tratamento convencional.”
 
De 3 a 6 de setembro, o GeriatRio 2015 reúne os participantes no Centro de Convenções do Hotel Royal Tulip, em São Conrado.
 
*Na foto, a partir da esquerda:
Márli Borborema Neves, Dulcinea Monteiro, Rodrigo Serafim, Maria Angélica Sanchez, João Bastos Freire Neto, Emylucy Paradela, Claudia Burlá, Célia Caldas e Tarso Mosci

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Integrar o que está fragmentado: o cuidado das doenças crônicas

Quem é o paciente crônico? Como está sendo cuidado? A resposta à primeira pergunta indica a pessoa de qualquer idade em condições clínicas decorrentes de uma doença crônica. Mais especificamente, a população idosa surge como grupo etário cada vez mais numeroso e relacionado às doenças crônicas, em decorrência de transições – demográfica e epidemiológica - originadas pelo expressivo aumento da expectativa de vida e rápida diminuição do número de mortes por doenças infecciosas e desnutrição, além da melhora da sobrevivência de crianças e da redução dos nascimentos. Antes de ser respondida, a segunda pergunta estimula muita análise e reflexão.
 
O envelhecimento populacional é acompanhado de crescente incidência de doenças crônicas em idosos, vinculadas a fatores fisiológicos típicos do avanço da idade, da herança genética, de práticas e hábitos adotados ao longo do curso de vida. São enfermidades progressivas e incapacitantes, que levam a diferentes graus de dependência para as atividades básicas de vida diária e acentuado declínio funcional. O complexo manejo do agravamento de doenças crônicas em pessoas idosas demanda modelos de cuidado baseados em uma nova concepção do processo saúde-doença, de relacionamento com a família e de organização dos serviços, entre muitos outros fatores.
 
A partir da esquerda: Anelise Fonseca, Lívia Coelho, Kylza Estrella e Martha Oliveira.
Em debate intitulado “Integração e coordenação do cuidado ao paciente crônico: discussão de modelos e experiências”, promovido pela Aliança para a Saúde Populacional (ASAP), no dia 2 de setembro, a questão foi levantada sob diferentes aspectos no âmbito das instituições de saúde pública e do setor privado. O evento foi aberto com as boas vindas de Paulo Marcos, presidente do Conselho de Administração da ASAP, e da CEO da ASAP, Milva Gois. Com moderação de Kylza Estrella, diretora da Semeando Saúde, as apresentações de Anelise Fonseca (médica, coordenadora do Núcleo de Cuidados Paliativos do Procare Saúde e do Hospital Adventista Silvestre) e de Lívia Coelho (médica, professora de pós-graduação de geriatria e gerontologia da Fundação Unimed), contaram com comentários de Martha Oliveira (médica, diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar).
 
Entre as considerações sobre modelos, as experiências relatadas pelas expositoras, por um lado, questionaram a distância entre governo, profissionais e sociedade sobre a possibilidade de inserir os cuidados paliativos na atenção primária e na hospitalar, como estratégia de cuidado da pessoa idosa em processo de adoecimento ou de fim de vida. Anelise Fonseca refletiu sobre “em que medida o cuidado integrado envolve o próprio paciente, os profissionais e a coordenação organizacional, promovido de acordo com as necessidades do paciente, com centralidade e troca de informações, em níveis macro, mezzo e micro.”
 
Um modelo organizado como “Rede de Atenção ao Idoso” implica conhecimento da população idosa, estratificação por risco e destaque à heterogeneidade – identificando “o idoso robusto, idoso com risco de perda funcional e idoso frágil”, segundo Lívia Coelho.
 
Durante o debate, Martha Oliveira pontuou que “o sistema de saúde é organizado de forma que cria dificuldades, com baixa eficiência e alto custo”. Considerou, ainda, que o setor deixou de discutir qualidade, do mesmo modo que abandonou o aspecto da cultura. “Sem qualidade não se discute modelo”, afirmou.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

A luta para a não contenção da pessoa idosa

A palestrante Arianna Kassiadou Menezes
Um tema do cotidiano nem sempre parece ser um problema para o qual buscar uma solução. A geriatra Arianna Kassiadou Menezes, atuante há mais de 33 anos, disse que “foi necessário que alguém a despertasse para a situação, que não chama tanto a atenção dos profissionais de saúde e dos familiares de pessoas idosas”.
 
No seminário “Cultura de não contenção da pessoa idosa – estratégias e desafios”, Arianna Menezes afirmou que “a contenção das pessoas idosas é entendida como várias formas, mecanismos e métodos que, de alguma maneira, vão limitar a pessoa, em um primeiro momento restringindo a mobilidade livre, ou seja, o movimento corporal espontâneo.” E completou que, “em uma visão mais ampla, entende-se como contenção, qualquer medida restritiva do cotidiano, como, por exemplo, a recomendação de que uma pessoa idosa não saia à rua.”
 
Arianna explicou que pode até haver uma justificativa para a medida, mas é uma restrição colocada de fora para dentro, que não é uma escolha da pessoa e, apesar de não ser uma limitação física primária, nem de habilidade cognitiva, é uma ação imposta como proteção e prevenção e, talvez seja muito indicada – mas requer reflexão.
 
O seminário “Cultura de não contenção da pessoa idosa – estratégias e desafios” foi realizado no dia 20 de agosto, de 10h às 12h, promovido pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e pelo Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), com moderação de Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (International Longevity Centres Global Alliance – ILC-GA).
 
A quem se destina a luta pela não contenção?
 
A prática de contenção de pessoas idosas tem sido, habitualmente, empregada em indivíduos com determinadas condições de fragilidade, quando outros indivíduos assumem a responsabilidade por elas. “São pessoas idosas limitadas, seja por uma ação de fechar uma porta, de trancar um quarto, de impedimento da escolha do canal de televisão ou de conter quimicamente”, contextualiza Arianna. Para a geriatra, “ser dependente implica em uma correlação, por que ninguém é dependente do nada, mas de alguma coisa ou de alguém. A dependência ocorre quando alguém compensa as incapacidades e as deficiências de outro alguém.”
 
O trabalho por uma cultura de não contenção da pessoa idosa se destina ao subgrupo de população que se tornou dependente, com restrições de ordem mental ou física, que requerem a participação de outra pessoa para que alcance o que necessita no cotidiano e não consegue fazer de forma autônoma. A quantidade de pessoas idosas em situação de dependência está vinculada à escala em que se insere e varia de 20 a 40% dos idosos, sendo que os idosos com altíssima dependência correspondem a 5% das pessoas idosas, em todo o mundo. “A idade em que a dependência começa, varia de acordo com os países ditos desenvolvidos (início mais tarde) e aqueles ditos em desenvolvimento” pontua Arianna.
 
Para o suporte às pessoas idosas em situação de dependência, os dois lugares prováveis de cuidado são a residência e as instituições de longa permanência de idosos (ILPI). Se houvesse boa disponibilidade de centros-dia, centros de convivência e de centros de demência, diz Arianna, as opções seriam maiores. E acrescenta: “se as ILPIs no Brasil não fossem vistas como lugar para a pobreza, não haveria o uso do leito de hospital como espaço de internação de idosos”.
 
Muitas vezes, a contenção da pessoa idosa adota o discurso da segurança e proteção do paciente, devendo, segundo Arianna, “ser ponderada para não extrapolar os seus possíveis "benefícios" em detrimento do Direito à liberdade, da ética e de um plano terapêutico humano. A luta por uma ‘Cultura de não Contenção em Idosos’ sustenta a conscientização dos profissionais pelos riscos envolvidos na adoção corriqueira desta prática dos direitos humanos e da necessidade de crítica para a adoção das boas práticas em gerontologia, sustentadas em evidências.”
 
Preocupação internacional
 
A “luta” de grupos profissionais em outros países ganhou a adesão de um grupo brasileiro, de Niterói, que foi progressivamente trocando informações com pesquisadores da cidade italiana de Trieste e da cidade argentina de Buenos Aires.
 
Formou-se assim o Grupo da “Tríplice Aliança”, agregador de amigos voluntários, criado em Junho de 2014 por profissionais e pesquisadores ligados ao campo da Geriatria e Gerontologia das cidades de Niterói, no Brasil; Trieste, na Itália e Buenos Aires, na Argentina. Em seguida, foi incorporada a Espanha, que tem várias iniciativas na área e o México por intermédio da página do Grupo no Facebook.
 
Desde então, o Grupo tem se dedicado à difusão da “Cultura de Não Contenção da Pessoa Idosa Dependente” nos espaços científicos e assistenciais e também através de rede virtual.
 
Informações sobre a Palestrante:
Arianna Kassiadou Menezes, geriatra; mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente; titulada como Especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e pela Associação Médica Brasileira; especialista em Geriatria e Gerontologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua como médica no campo da assistência ambulatorial ao idoso na UFF desde 1983 e tem experiência em medicina geriátrica ambulatorial e domiciliar, em atendimento multidisciplinar à saúde da pessoa idosa, em cuidados prolongados à pessoa idosa em situação de dependência, em gestão e assistência ao idoso em Instituição de Longa Permanência, inclusive nos serviços Longevus e Villa Vecchia, em Niterói. É responsável desde 2011 pelo desenvolvimento do site de divulgação de informação no campo do Envelhecimento.
 
Informações sobre a Debatedora:
Rosimere Ferreira Santana – pós-doutora, professora adjunta da Faculdade de Enfermagem/UFF, atuante em enfermagem geriátrica e sistematização da assistência de enfermagem.
 
Em novembro, o "Grupo da Tríplice Aliança" realizará o Curso Qualidade dos Cuidados de Longo Prazo
 
Com carga horária de de 20 horas, o curso se propõe a discutir aspectos mais práticos e metodologias de intervenção direcionadas aos idosos dependentes, com demência e institucionalizados. O foco é a qualidade dos cuidados de longo prazo. Os dois principais palestrantes são de Trieste-Itália: Fabio Cimador e Gilberto Cherri.
 
Nos dias 27-29 de novembro, o curso será realizado em Niterói, com tradução simultânea.
 
Número de Vagas: 50
Certificado: Núcleo de Estudos e Pesquisa em Enfermagem Gerontológica (NEPEG)/UFF
Local: Anfiteatro do Serviço Ambulatorial da Marinha do Brasil, Ponta D’Areia – Niterói- RJ
Datas e Horários: 
Sexta-Feira 27 Nov 2015 - 14:00 às 18:00
Sábado 28 Nov 2015 - 08:30 às 12:30  e  14:00 às 18:00
Domingo 29 Nov 2015 - 08:30 às 12:30 e 14:00 às 18:00
 
Promoção:
"Grupo da Tríplice Aliança" - que divulga a cultura de não contenção da pessoa idosa.
Apoio:
NEPEG/UFF
Marinha do Brasil
Secretaria de Saúde de Trieste
ILPI Villa Vecchia

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Envelhescência - um documentário sobre as possibilidades da velhice

É possível ser surfista depois dos 60 anos? Praticar Aikido aos 89 anos? Fazer tatuagens após os 70? Se formar em medicina aos 84 anos? Ainda ser paraquedista aos 76? Vencer maratonas na categoria de 80 a 89 anos?
 
O diretor do documentário Envelhescência, Gabriel Martinez, encontrou seis pessoas “símbolo” de uma forma de chegar à velhice com visão otimista da vida, disposição para superar desafios e vontade de se reinventar.
 
Edmeia Corrêa se tornou surfista após os 60 anos e diz sentir imenso prazer com o esporte. Kenji Ono, japonês, introdutor do aikido no Brasil e ainda hoje, aos 89 anos, um mestre admirado e praticante da técnica. Judith Caggiano, depois dos 70 anos começou a tatuar o corpo, agora totalmente coberto por desenhos coloridos. Edson Gambuggi se formou em medicina aos 84 anos e ressalta o valor do convívio com outras gerações de estudantes. Luiz Schirmer, médico, grande paraquedista com 76 anos, que não abre mão da adrenalina proporcionada pelo esporte. Oswaldo Silveira é maratonista campeão da categoria de 80 a 89 anos.
 
As histórias contadas no documentário “Envelhescência” podem ser consideradas como “materialização” do Envelhecimento Ativo - conceito sistematizado pela Organização Mundial da Saúde em 2002 e revisado e atualizado, em 2015, pela equipe do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), sob a liderança de seu presidente, o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (ILC Global Alliance).
A partir da esquerda: Luiz Schirmer, Alexandre Kalache, Gabriel Martinez e Mirian Goldenber
 
A exibição do documentário “Envelhescência” foi uma iniciativa conjunta do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), realizada no dia 13 de agosto, às 15h, no auditório do Cepe à Av. Padre Leonel Franca, 248, Gávea. O documentário de longa metragem (84 minutos) teve argumento de Ruggero Fiandanese e comentários especializados dos experts Alexandre Kalache, Mirian Goldenberg e Mário Sergio Cortella.
 
Depois da exibição, o diretor Gabriel Martinez falou sobre a produção para um auditório cheio. Disse que tudo começou quando pensava redirecionar sua atividade na área de audiovisual. Há dois anos, procurava temas para um documentário e, entre eles, estava a terceira idade – que sempre o instigou. Especialmente por que, nessa época, ele tinha 33 anos e passava por sua cabeça que era “velho” para começar algo novo, como migrar da realização de vídeo institucional para a produção de conteúdo, ou seja, de documentários.
 
Com mediação de Alexandre Kalache, Mirian Goldenberg, que assistiu ao Envelhescência pela primeira vez, e Gabriel Martinez conversaram com um dos entrevistados do filme, o paraquedista Luiz Schirmer, em clima de emoção e celebração.